sexta-feira, 6 de março de 2009

Cultura de supermercado


Hoje em dia vivemos um paradigma muito interessante! Por detrás de toda a banalização da sociedade que é ancorada por músicas de baixo calão e pela exploração do corpo feminino há um discurso que pretende ser contrario a tudo isto.
É o discurso da cultura, os órgãos governamentais e a sociedade em geral defende que o povo tem de ser “cultorizado” assim como os índios foram catequizados . Todos os ramos da sociedade devem se mobilizar para ensinar ao povo a cultura, até que ela tome a mente de todas as pessoas, pois este é o único meio de salvar a sociedade.
O que eles esquecem é que a cultura é elitista e quando eu digo isto não quero dizer que ela seja excludente,quero dizer que ela realmente exclui algumas pessoas, mas isso nada tem a ver com o poder aquisitivo ou com a capacidade mental dessas pessoas , mas que a cultura elege um sujeito que esteja disposto a participar do culto da cultura e é este culto que não é para todos , pois ele está a disposição apenas daqueles que se pré dispõem a aceita-lo.
Hoje exige se, e esta exigência recai principalmente nos professores, que a cultura seja trazida para vida das jovens mentes a todo custo, o que eles não desconfiam é que uma pessoa não pode aprender cultura, ela somente tornar-se- a culta se aceitar jogar dentro das regras do jogo.
Tudo hoje em dia é muito imediatista e a sociedade não pode esperar , então é impensável imaginar que uma pessoa leve a vida toda para tornar-se culta , ela deve no máximo levar os 18 anos regulares de ensino e se possível for, quem sabe,ela poderá depois fazer algum curso virtual de cultura mais profunda, conhecendo alguns nomes e decorando algumas citações em 20 aulas fácies.
Não adianta ir a uma livraria de shopping todos os sábados e entre o lanche e o cinema entrar para consumir a sua dose semanal de cultura adquirida entre um beste seller e outro folheado sofregamente , “por que os livros de hoje em dia teimam em não trazer figuras”,a edição mais comentada das revistas de fofocas. O pior é pensar que isto esgotar a sua necessidade de cultura.
O que quero dizer é que cultura não pode ser consumida como um produto na prateleira de um supermercado, ela requer um sujeito disposto e paciencioso para adquiri-la em pequenas doses todos os dias em todos os momentos e retornar a ela sempre que achar que começa a emburrecer.
O que digo é que não há como ensinar toda a arte iluminista em dois meses a uma pessoa e acreditar que isto é cultura, quando não há prazer maior que contemplar um único quadro de uma galeria por uma hora inteira e depois ir embora sem sequer ver qualquer outra ilustração dali.
Não há como aceitar que um sujeito saiba literatura sem antes comprovar em sua identidade que ele viveu mais que cinqüenta anos, porque é fundamental conhecer um livro mais do que a sua capa e resumo, é fundamental que um livro tenha um história e que esta história tenha sido construída junto com a sua , é importante que o livro tenha sido relido em momentos especiais e que haja nele dobras, marcas , anotações infinitas , grifos, orelhas e lombadas rasgadas ; que haja manchas de café de uma noite de insônia e respingos de vinho de uma noite de festa ; caso contrario este livro não foi lido. Li poucos livros em minha vida , certamente uns três ou quatro apenas , porque não há leitura sem releitura , “sem releitura de cinco vezes no mínimo”, sem poder citar trechos inteiros de memória.
Cultura é escutar uma única música a vida inteira , perceber e sentir cada mudança de tom , cada ruído diverso do som , cada momento de pausa e compartilhar da alma do musico que a escreveu.
Isto é cultura , não é estar lendo o ultimo livro da moda , ter ouvido falar de van Gogh e saber que Beethoven não é só o cachorro da “TV”.
Cultura não é para todos, nem pode ser ensinada, mas pode ser adquirida por todos e o professor pode tornar conhecido um autor , ou mostrar aos alunos um quadro, mas nunca poderá fazer com que eles sejam cultos.
Esqueça a cultura de imediatismo que querem fazer você aceitar, faça da livraria um templo e a sua visita deve ser o mais importante evento de sua agenda lotada , não é necessário comprar um livro cada vez que vá, mas reserve uma quantia para comprar pelo menos um livro bom a cada três ou quatro meses , deguste este livro por este tempo como quem come o mais saboroso prato de sua comida favorita.
Não tenha pressa, o tempo passará e um dia você será surpreendido por já ser um a pessoa culta , mas quando isto acontecer você nem vai mais dar importância !

Um comentário:

ROGER SANTULLO disse...

CONCORDO PLENAMENTE COM VC LINDA CULTURA VC N COMPRA VC CONQUISTA N SÓ LENDO OUVINDO MÚSICA OU VENDO UM QUADRO MAS PRINCIPALMENTE OBSERVANDO PESSOAS. BEIJO PRA VC!